domingo, 23 de junho de 2013

Dislexia vs. Perceção visual

Dislexia vs. Perceção visual

Um novo estudo de imagens do cérebro parece descartar uma causa potencial de dislexia, apontando que os problemas de perceção visual não conduzem às dificuldades de leitura.
A nova pesquisa pode ter um amplo impacto na deteção e tratamento da dislexia, disse a autora principal do estudo Guinevere Eden, diretora do Centro de Estudos de Aprendizagem da Georgetown University Medical Center. O estudo foi publicado 06 de junho na revista Neuron.
"Este estudo tem importância do ponto de vista prático: propõe que não se deve incidir sobre o sistema visual para diagnosticar ou tratar a dislexia", segundo Eden.
"Até agora, ainda havia esta incerteza, com algumas pessoas a dizerem: 'Sei que é controverso, mesmo assim acredito que os problemas de perceção visual contribuem para os problemas de leitura destes miúdos”. Temos agora uma descoberta que realmente remete para a compreensão de que a função do sistema visual não deve ter um papel importante no diagnóstico ou tratamento da dislexia. " As pessoas com dislexia debatem-se para aprender a ler com fluência e precisão. A dislexia pode afetar mais de uma em cada 10 pessoas nos Estados Unidos e é a dificuldade de aprendizagem mais comum do país, de acordo com a informação complementar do estudo. Os estudos de imagens cerebrais anteriores descobriram que as pessoas com dislexia experienciam fraquezas subtis no processamento de estímulos visuais em comparação com as pessoas da mesma idade, levando alguns a perguntar se esta disfunção visual interfere com as capacidades de leitura de uma criança.
Mas o estudo constatou que os problemas visuais observados em pessoas com dislexia são provavelmente uma consequência do distúrbio de aprendizagem, em vez de ser a causa, segundo Eden.
Ao descartar o centro visual como o culpado, o novo estudo substancia a teoria, já popular, de que a dislexia ocorre devido a deficiências na parte do cérebro que lida com a linguagem, acrescenta Eden.
Os investigadores usaram a ressonância magnética funcional para comparar os cérebros de crianças disléxicas com os cérebros de crianças que não têm este distúrbio de aprendizagem. As crianças sem dislexia parecem ter o mesmo nível de atividade de processamento visual das crianças disléxicas, quando comparado por nível de leitura em vez de idade. Além disso, as crianças com dislexia que receberam acompanhamento específico de leitura experimentaram um aumento da atividade do sistema visual.
"Quando pedimos que as crianças aprendam a ler, estamos a pedir-lhes para fazerem algo muito difícil. Aprender a ler modifica o cérebro; se uma criança se debate com dificuldades na leitura, devido à dislexia, não terá tantas oportunidades de ler como outra da sua turma, logo o seu cérebro não tem a oportunidade de mudar tanto como o da primeira. O défice de perceção visual está lá, mas o estudo permitiu-nos concluir que existe como consequência e não como causa: a criança disléxica não teve as mesmas oportunidades de ler que a criança sem dislexia."
O novo estudo representa um passo fundamental para reduzir as potenciais causas da dislexia e ajuda a moldar a deteção e tratamento futuros, disse Laurie Cutting, professora de educação especial, psicologia e radiologia da Universidade de Vanderbilt em Nashville, Tennessee. "Problemas de visão ou envolvimento de processamento visual têm sido relacionados há muito tempo com a dislexia, o que também tem acontecido com os problemas que envolvem a linguagem. Este trabalho começa a conciliar porque existem esses dois tipos de resultados e fornece algumas pistas para o futuro da investigação dos mecanismos causais".
Cutting disse ainda que as investigações futuras devem concentrar-se em replicar estes resultados, e encontrar outra explicação para a interação entre os centros visuais e de linguagem do cérebro.
(…)

Dennis Thompson
HealdDay Reporter
June 2013
(Tradução livre)