UM
DIA NA VIDA DE UM ALUNO COM DISLEXIA
Adaptado de “A day in the life of a teen with dyeslexia.”
Para os alunos com dislexia cada aula pode ser
uma luta, na medida em que, quase todas as disciplinas dependem da leitura e
ortografia. Dislexia pode, assim, levar, também, a problemas sociais,
emocionais e comportamentais. Use este guia visual para saber como esta
perturbação da aprendizagem específica afeta o quotidiano do seu filho.
Henrique é um aluno de 11 anos. Tem necessidades
educativas especiais. A inteligência é uma das suas principais características,
mas os problemas de leitura condicionam-lhe o dia-a-dia. Uma simples tarefa,
fácil de executar para o comum dos mortais, pode transformar-se num verdadeiro
quebra-cabeças para um aluno com dislexia.
Vejamos como é, afinal, um dia típico na vida de
Henrique:
Problemas relacionados à dislexia: Baixa autoestima e abandono escolar
6h15
Acorda cedo com o despertador mas, logo desliga o alarme
e não quer sair da cama. Depois de tantos comentários sobre o quão lenta e
sofrida é a sua leitura, Henrique deixa-se levar pela pressão e prefere nem
pensar na escola. Imaginar entrar numa sala de aula é suficiente para o
destabilizar. Um dia, chegou a fingir uma dor de estômago para justificar a
falta. Não tem dúvidas: os melhores dias são aqueles em que fica em casa, longe
do stress que as aulas lhe provocam.
Problemas relacionados à dislexia: Compreensão de leitura e escrita à mão
8h30
Chegou o dia. Henrique não está preparado para a palestra
de história.
Tentou terminar os trabalhos de casa, mas as dificuldades
na leitura são tão evidentes que apenas conseguiu concluir alguns parágrafos.
E, como demorou tanto tempo para ler e perceber cada frase, como sempre, teve
dificuldade em entender o texto na sua globalidade.
Não se pode dizer o contrário: Para além de inteligente,
Henrique, também, é esforçado! Quer ultrapassar os obstáculos que o impedem de
ter sucesso escolar. Nas aulas costuma ouvir atentamente o professor e, ainda
que de forma pouco organizada, tenta retirar notas/apontamentos da matéria mais
importante, mas não chega. Henrique precisa de acompanhamento especializado
para conseguir superar as suas dificuldades. E assim, o teste, quinta-feira,
advinha-se um pesadelo.
Problemas relacionados à dislexia: Descodificação e memória de trabalho
10h30
Henrique gosta de matemática, exceto dos problemas.
Levam-lhe uma eternidade a ler e compreender. Dificilmente consegue reter e
sistematizar o que lê e, assim, como era de esperar, não os consegue resolver,
por muito que tente. Geralmente, comete erros simples, por exemplo, como mudar
dois números ou misturar a sequência de etapas. Ou seja, a resposta está, quase
sempre errada, apesar de até ter adquirido e entendido os conceitos e ter um
bom raciocínio lógico-matemático.
Problemas relacionados à dislexia: Reconhecer palavras à vista, construir vocabulário e
consciência fonológica
12h30
É difícil para Henrique relaxar durante o almoço. Tem
trabalhos de casa para fazer e precisa de ajuda. Sozinho não os consegue fazer.
Por isso corre na escola, desenfreado, à procura de uma ajuda-extra dos
professores. Aproxima-se o teste de vocabulário de francês e Henrique está
preocupado. Por muito que olhe para os flashcards sobre a matéria,
parece sempre que os olha pela primeira vez. Infelizmente, um problema, não
exclusivo, da disciplina de francês – é transversal às outras. As palavras,
simplesmente, não lhe "ficam" na memória!
Problemas relacionados à dislexia: Aprender uma língua estrangeira e evitar tarefas
13h30
A aula de francês é, sem dúvida, das mais difíceis! Se
Henrique já tem imensos problemas para ler e escrever em português, mais
difícil se torna a tarefa de o fazer num outro idioma/língua, com diferentes
sons e regras de ortografia.
O método de ensino do professor deixa Henrique
desconfortável e ainda mais inseguro: todos os alunos são incentivados a lerem
em voz alta na sala de aula, um de cada vez. E quando Henrique sente que está
prestes a ser chamado, inventa uma desculpa qualquer para se ausentar da aula.
A maneira mais fácil é dizer que precisa de ir à casa de banho mas já não
resulta, a desculpa está gasta. Henrique sempre preferiu refugiar-se num local
qualquer, em vez de mostrar fragilidades diante da turma e, eventualmente,
dizer algo impróprio ao professor e ter uma falta disciplinar.
Problemas relacionados à dislexia: Ansiedade e dificuldade para ler música
14h30
O coro é a única coisa que Henrique gosta da escola. A
leitura da música é difícil, mas, ao contrário das outras disciplinas, pode
sempre aprender ouvindo-as. E é fantástico quando as pessoas elogiam a voz
bonita que tem. Henrique preocupa-se que, se tiver de faltar ao coro por causa
de uma outra aula qualquer, possa não ter agenda para a substituir. Dá imensa
importância à participação no coro.
Problemas relacionados à dislexia: Descodificação, ortografia e interação
16h30
As mensagens de texto são stressantes para
Henrique. Demorou muito tempo para descobrir as abreviaturas usadas pelos
amigos para simplificar determinadas palavras. As dificuldades que sente ao
nível da leitura e da ortografia tornam difícil, quase impossível, fazer parte
das conversas de grupo.
Problemas relacionados à dislexia: Escrita, ortografia, revisão
20h15
Os pais de Henrique continuam a pressioná-lo para
terminar o estudo. A capacidade de soletração de Henrique é bastante pobre e,
por vezes, a família, amigos e colegas não percebem a mensagem que pretende
transmitir! A correção, também se torna difícil. Henrique não tem consciência
dos erros que comete. Por isso, depende sempre da supervisão dos pais em casa.
Às vezes, dizem que se trata de preguiça, mas não é. Henrique demora muito mais
tempo a fazer um trabalho de casa do que um estudante sem dislexia.
Problemas relacionados à dislexia: Stress generalizado
22h15
Já é tarde e Henrique está cansado. Antes de dormir
precisa de relaxar. Jogar na playstation é o passatempo favorito. Assim
que entra no mundo virtual, Henrique torna-se igual a outra criança qualquer:
esquece-se da dislexia e de todos os problemas que lhe estão associados. Hora
de dormir. Amanhã outro longo dia pela frente.
Sobre a
Dislexia
A dislexia é uma perturbação da aprendizagem específica
com défice na leitura, normalmente associada a alterações
neurodesenvolvimentais. Não significa falta de inteligência, nem dificuldades
de visão. É uma disfunção neurológica que torna difícil aprender a ler com
precisão e fluência. A questão central envolve a compreensão de como os sons
nas palavras são representados por letras. É comum para um aluno com dislexia
apresentar dificuldades na compreensão da leitura, erros ortográficos,
dificuldades na estrutura frásica e na organização de ideias.
As crianças não superam a dislexia, aprendem mecanismos
para lidar com ela.
As suas dificuldades com a leitura podem afetá-las
socialmente, emocionalmente e verbalmente. É comum que evitem ler em voz alta e
não saibam responder à pergunta do professor.
Pais e professores, não raras vezes, interpretam mal os
sinais da dislexia. Confundem-nos, por exemplo, com preguiça. Por vezes, parece
que os alunos não se esforçam o suficiente para obter melhores resultados
escolares. Há, no entanto, fórmulas/estratégias de sucesso para fazer face à
dislexia: abordagens de ensino adequadas; intervenções terapêuticas
específicas, regulares, com técnicos especializados com o objetivo de reeducar
as áreas subdesenvolvidas e com necessidade de desenvolvimento.
O programa de reeducação da dislexia permite superar os
desafios de leitura e prosperar ao nível do aproveitamento escolar e da própria
vida pessoal.
Como ajudar?
- Fale com a escola do seu filho sobre os métodos
de ensino-aprendizagem estruturados e multissensoriais utilizados no
ensino da leitura e da escrita. Esta abordagem de ensino é projetada/concebida
para envolver as crianças através da visão, audição, movimento e toque.
O uso dessas diferentes áreas pode ajudá-los a associar
sons a letras e, assim, aprender a descodificar palavras escritas.
- Explore alguns exercícios que ajudem os alunos a
aprender e mostrar o que sabem. Por exemplo, ter um bloco de notas, fazer um
relatório oral ou um projeto de vídeo, em vez de uma tarefa escrita. Solicitar
a leitura na sala de aula em voz alta não é boa solução.
- As ferramentas tecnológicas podem ajudar os alunos
com dislexia através do estímulo para a descoberta de novas palavras e
ideias. Livros de áudio, aplicativos de texto para fala e livros didáticos
digitais podem ajudar o seu filho a ouvir e entender melhor o que se pretende.
-Procure o Techfinder da Understanding. Estas aplicações, já analisadas por especialistas,
podem ajudar a superar alguns problemas de leitura.
- Estimule o interesse do seu filho para a leitura. Livros de banda desenhada, desporto, moda e culinária são
sempre boas formas para despertar vontade de ler. Procure livros sobre grandes
temas atuais próprios para a idade do seu filho, desde que escritos de forma
simples e facilmente entendível.
- Enfatize os pontos fortes de seu filho. Use
desportos, passatempos e outras atividades para ajudar o seu filho a ficar
motivado na escola. Outra maneira de ajudar a aumentar a autoestima é partilhar
histórias de sucesso sobre pessoas com dislexia.
- Pratique a autodefesa. Os alunos mais resolvidos
com o seu problema de dislexia, costumam dar o primeiro passo e falar sobre as
dificuldades que sentem ao nível da leitura. Não é fácil, mas é importante que
saibam procurar ajuda sempre que dela precisem.