Ter um jovem com dislexia na sala de aula é um desafio e, se quisermos, pode ser uma experiência interessante para todos.
A primeira etapa deverá ser desmistificar o assunto (Snowling & Stackhouse, 2004/1996). Primeiro, o jovem deve ser bem informado sobre o seu problema; depois, o professor deve estar na posse de informações que demonstrem ao jovem que sabe o que é a dislexia e, principalmente, que sabe adequar o ensino à problemática, isto dá segurança ao jovem e preserva a sua autoestima; por outro lado, o jovem e o professor devem satisfazer a curiosidade dos restantes elementos da turma, porque é natural que todos sintam curiosidade e formulem perguntas que devem ser respondidas com naturalidade e simplicidade, mas respeitando o conhecimento científico que se tem sobre o assunto. Nada é mais prejudicial do que perpetuar incorreções, mal-entendidos e preconceitos.
Shaywitz (2008/2003) refere seis perguntas que os colegas de um dos seus pacientes fizeram quando souberam que ele tinha dislexia, perguntas esses que levaram a que o assunto ficasse esclarecido através das respostas do professor informado e que não fossem formuladas narrativas que deturpam a realidade e provocam problemas socioemocionais nos jovens com dislexia.
Pergunta | Resposta |
O que é a dislexia? | É ter dificuldades em aprender a ler. |
É para sempre? | Sim, mas aprendem a ler, pode é demorar mais tempo. |
Pode melhorar? | Com treino adequado, a leitura melhora sempre bastante. |
Como é que se contrai? | Nascem assim. É como ter olhos castanhos ou verdes, serem altas ou baixas. |
Provém de um vírus? | Não. A dislexia não se apanha nem se cura, não é nenhuma doença. |
Porque é que tem um nome tão estranho? | Dis=difícil + lexia=palavras, logo: Dificuldade em ler palavras. |
Estas perguntas formuladas pelos jovens servem apenas como ilustração, muitas outras dúvidas poderão surgir. O segredo será sempre tratar o assunto com naturalidade e nunca deixar nada no ar. O próprio disléxico e os pais terão sempre muitas dúvidas, pelo menos no início. Também a eles devem ser fornecidas informações, através de conversas ou encaminhados para sites adequados (no caso dos jovens) à sua idade ou fornecendo-lhes livros com informações pertinentes.
Um outro aspeto muito importante é tratar o jovem disléxico com naturalidade, sem demonstrar proteção excessiva: “(...) não se mostre paternalista com uma criança nem diminua as suas expectativas. Trate-a sempre como uma pessoa com múltiplas dimensões e não simplesmente como uma pessoa que tem um problema de leitura” (Shaywitz, 2008/2003, p. 241). Como refere Cunha (2010), cabe, portanto, ao professor (e à escola enquanto elemento organizacional nesta matéria) encontrar o equilíbrio entre uma educação formal séria, o equilíbrio emocional dos alunos com problemáticas e os curricula nacionais. Cabe ainda à escola e à família encontrarem respostas adequadas a um percurso equilibrado e emocionalmente estável: “Apesar da questão ambiental não ser a causa da dislexia, pode influenciar no sucesso académico dos alunos e no seu desenvolvimento social e emocional (sobre este aspeto ver também MacNulty, 2003), daí a necessidade de uma formação para a diferença” (Carvalhais et al., 2007, p. 27).
Jorge da Cunha
Maio de 2021
Referências
Carvalhais, L. & Silva, C. (2007). Consequências sociais e emocionais da dislexia de desenvolvimento: Um estudo de caso. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, 2, 21-29.
Cunha, J. (2010) Análise e intervenção em problemáticas específicas de leitura. Universidade Nova de Lisboa: FSCH. https://run.unl.pt/bitstream/10362/5138/1/Dissertação.pdf.
McNulty, M. (2003). Dyslexia and the life course. Journal of Learning Disabilities, 36, 4, 363-381.
Shaywitz, S. (2008). Vencer a dislexia: Como dar resposta às perturbações da leitura em qualquer fase da vida. Porto: Porto Editora. (Versão original de 2003)
Snowling, M. & Stackhouse, J. (2004). Dislexia, fala e linguagem: Um manual do profissional. Porto Alegre: Artmed. (Versão original de 1996)