As dificuldades de leitura e de escrita são aquelas que mais se notam na escola. Apesar de ainda não serem suficientemente valorizadas, são aquelas em que o diagnóstico é realizado com maior frequência, mas que mais problemas trazem aos professores, pois não sabem que estratégias definir, ficando-se, muitas vezes, apenas pelas adaptações na avaliação.
Não ser proficiente na leitura significa não ser capaz de extrair com a mesma facilidade que os seus pares a informação dos textos, não esqueçamos que a maior parte do material escolar faz apelo à leitura. São dificuldades inesperadas que se notam aquando da aprendizagem da leitura e escrita, não se devendo a défices cognitivos, sensoriais, motores ou lesões neurológicas, mas, sim, a alterações linguísticas no domínio fonológico. Às vezes, bastava que à criança com dificuldades de leitura tivesse sido dada uma segunda oportunidade para aprender a ler, o que raramente acontece, ou tivesse tido apoio especializado adequado, o que raramente existe, e os que existem são fora das escolas a preços elevados, de difícil acesso para algumas famílias.
A avaliação de dificuldades específicas de leitura deve seguir um protocolo rigoroso, tendo na base critérios fonológicas, pois as dificuldades apresentadas (excluindo as provocadas por lesões) podem ter várias origens, sendo as mais comuns a má aprendizagem inicial da leitura (voltar a ensinar a ler), a falta de experiências leitoras (incentivar a leitura por prazer), a dislexia de desenvolvimento (aplicar um programa estruturado multissensorial de leitura).
A Dislexia apresenta uma componente genética e hereditária acentuada, já foram identificados com precisão os genes responsáveis com predisposição para as dificuldades específicas de leitura decorrentes de dislexia.
Ao longo da história do conceito, foram sendo criadas, mesmo na escola, mesmo por alguns técnicos, algumas ideias preconcebidas decorrentes do senso-comum que em nada têm ajudado à compreensão da realidade nem ajudado no diagnóstico e na intervenção.
Inverdades:
1. “O que ele/ela tem é preguiça.”
Nenhuma criança tem dislexia devido a causas ambientais e/ou de personalidade. As causas da dislexia são genéticas, hereditárias, neurológicas.
2. “Hoje em dia é tudo disléxico.”
A prevalência em Portugal está entre os 8% e os 15%. Há pelo menos 1 ou dois alunos disléxicos por turma. Devemos perceber que o português europeu é uma língua semiopaca, o que a torna muito irregular, dificultando a aprendizagem da leitura e da escrita, principalmente aos disléxicos.
3. “A dislexia não se trabalha. É assim e pronto.”
Uma intervenção multissensorial de base fonológica bem estruturada obtém resultados muito positivos, mas não é de um momento para o outro, leva, por vezes, anos. No entanto, o indivíduo disléxico bem intervencionado pode chegar a níveis de leitura aproximados do indivíduo que não tem dislexia.
4. “A dislexia passa... daqui a nada dá-lhe o clique.”
A dislexia não passa nem deixa de passar. Primeiro, não é uma doença, por isso não existe nenhuma terapêutica farmacológica, psiquiátrica ou psicológica adequada. Segundo, nestas questões não há cliques, assim que se observam dificuldades nesta área deve a escola e os pais ficarem alerta (já há sinais no pré-escolar, embora o diagnóstico só deva ocorrer após a aprendizagem inicial da leitura). Terceiro, após o diagnóstico, deve haver uma intervenção psicoeducacional estruturada para que as dificuldades sejam minimizadas. Não há cura porque não é uma doença nem um atraso. Quem nasce disléxico será sempre disléxico.
5. “Ele/ela tem é dificuldades de visão/emocionais/atenção/preguiça.”
A dislexia resulta de causas linguísticas. Os indivíduos com baixa visão ou outras alterações visuais, com problemas do foro emocional, com défices de atenção ou preguiçosos aprendem bem a ler. Pode a dislexia ter, claro, comorbilidades, mas isso é outra história.
6. “O que ele/ela tem é problemas de compreensão/falta de inteligência.”
O problema dos disléxicos é de leitura e/ou de escrita, não de compreensão nem de inteligência, pelo contrário, até podem ser sobredotados em determinadas áreas. Quantos cientistas, atores, escritores... existem que são comprovadamente disléxicos!
7. “Sem diagnóstico não há intervenção.”
A escola e/ou os pais devem estar atentos aos sinais e atuar o mais precocemente possível, independentemente do diagnóstico. Se se detetou dificuldades de leitura, não é benéfico ficar à espera do diagnóstico, pois as estratégias incidem sobre as dificuldades e não sobre o diagnóstico. Por outro lado, o diagnóstico não serve de nada se não tiver em vista a intervenção.
8. “A dislexia surgiu devido ao método utilizado na aprendizagem da leitura.”
Nenhum método provoca dislexia. A maior parte das crianças aprende a ler seja qual for o método utilizado pelo professor. Já as crianças disléxicas, necessitam de métodos multissensoriais de base fonológica.
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