domingo, 3 de outubro de 2021

Pode o disléxico melhorar a fluência leitora?


Fluência leitora e dislexia


É claro que o disléxico pode melhorar a sua fluência leitora.

É claro que cabe à escola proporcionar o desenvolvimento desta competência.

É claro que os quatro primeiros anos de ensino formal são essenciais.

É claríssimo que a aprendizagem da leitura tem sido negligenciada nas escolas portuguesas.

 

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Será talvez importante, antes de avançarmos algumas pistas, perceber o que é afinal a fluência leitora. Assim, de forma esquemática, a fluência leitora é vista tradicionalmente como sendo a capacidade de ler um texto com um grau de lisibilidade adequado à idade de leitura do jovem e sem esforço, utilizando pouca atenção consciente na descodificação (Meyer & Felton,1999). “A fluência, isto é, a capacidade de ler um texto rapidamente, com precisão e com uma boa compreensão do mesmo, é a marca de um leitor proficiente”, confirma-nos Shaywitz (2008/2003, p. 253). A autora, mais à frente reforça que “À medida que os leitores se tornam mais fluentes, tornam-se também mais aptos a compreender melhor” (Shaywitz, 2008/2003, p. 301). Mais tarde, Hasbrouck e Glaser (2012) definiram fluência leitora seguindo a mesma linha de pensamento de Shaywitz, mas acrescentando que uma maior fluência leva não só à compreensão, mas também é um importante vetor para a motivação para a leitura.

 

Algumas características comuns relacionadas com a fluência em jovens disléxicos: Estas características influenciam negativamente (porque perturbam) a compreensão da leitura, tendo de ser, por isso, alvo de atenção, aquando do treino a partir de um programa estruturado.

a) Desconsiderar a pontuação na leitura;
b) lentidão e instabilidade na leitura oral:
c) leitura oral monótona, sem expressividade (prosódia desadequada);
d) escolha de livros desadequados à idade e nível escolar;
e) movimentação ou focagem ocular desadequada (esta capacidade devia ocorrer por volta dos 5 anos).
 
Algumas estratégias para melhorar a fluência leitora:
Salienta-se que estas estratégias têm de ser alvo de análise e adequadas a cada situação.
a) Deixar inicialmente o jovem escolher o tipo de texto que deseja ler. Pode ser banda desenhada, uma revista, uma notícia ou uma lista de assuntos;
b) encorajar a leitura em voz alta. Inicialmente, faça-o também, servindo de modelo. Ouvindo-o ler pode aferir em que palavras o jovem erra, permitindo a correção, e quais as que são mais difíceis para ele (monitorizar a leitura). Alternando a leitura entre si e ele, para além do modelo, impede que o jovem se canse e encare a leitura como um fardo;
c) verificar se o jovem compreendeu o que leu e se sabe o significado de todas as palavras. A leitura torna-se mais fácil e agradável se compreendermos o que estamos a ler.
 
É no entanto imperioso que as escolas olhem a leitura como a sua ferramenta de ensino e aprendizagem mais importante, não deixando nenhum jovem para trás. Se o jovem não aprendeu a ler adequadamente à primeira, deve partir-se para a segunda ou terceira. Uma boa aprendizagem da leitura também nos jovens disléxicos é condição essencial para o sucesso académico e profissional, e, acima de tudo, para o equilíbrio socioemocional de qualquer jovem.

Jorge da Cunha

 

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Referências

Hasbrouck, J., & Glaser, D.R. (2012). Reading fluency: Understanding and teaching this complex skill. Austin, TX: Gibson Hasbrouck & Associates.

Meyer, M. S., & Felton, R. H. (1999). Repeated reading to enhance fluency: Old approaches and new directions. Annals of Dyslexia, 49, 283–306. https://doi.org/10.1007/s11881-999-0027-8

Shaywitz, S. (2008). Vencer a dislexia: Como dar resposta às perturbações da leitura em qualquer fase da vida. Porto: Porto Editora. (Versão original de 2003)